“Após ouvir algumas palavras do seu guia, uma porta se abre. O cheiro de mofo, como se ali, o tempo tivesse parado há muito tempo. A venda cai, a vista muito turva, custa a se adaptar ao local, observa um gabinete simples. Sobre ele, alguns objetos que instantaneamente lhe deixam entregue a reflexão. Disposto a sua frente, papel e caneta, para que redija seu testamento”
Esse de fato, é o primeiro contato real que o candidato tem com a ordem maçônica desde que aceitou fazer parte da instituição. Nas paredes, lê conjuntos de frases pouco amigáveis. Receia ter seus objetivos descobertos, ou apenas concorda com o que lê.
A câmara de reflexões, como o nome sugere, faz o candidato refletir sobre o que foi sua vida até ali. Suas opiniões mais pessoais, sentimentos que nutre, e até pessoas que de fato confia. Por fim, exprime se o candidato está mesmo pronto para assumir uma nova vida. É ali que os sentimentos verdadeiros de uma decisão que impactará sua vida para todo o sempre, se materializam. Por ser a porta de entrada da Maçonaria, a Câmara de Reflexões carrega uma importância inestimável. É a partir dela que os membros da loja passam a conhecer melhor os candidatos, sabendo suas opiniões sobre assuntos aos quais carregam tremenda importância para a ordem.
Mas de onde surgiu este costume?
É possível associar sua criação, com a lenda de Hiram Abiff, tão explorada no Rito Escocês Antigo e Aceito. Mais precisamente na passagem onde os três assassinos se escondem numa caverna, onde passam a refletir sobre suas atitudes errôneas e cheias de vícios que acabaram por degradar por completo, suas vidas.
A luz exterior, jamais tocou as paredes do lugar, tendo apenas a chama de uma vela, que vacilante, luta contra toda escuridão do lugar, o neófito enfrenta sua primeira prova. A Reflexão. Enterrado, o iniciado passa para a primeira fase da transmutação da grande obra. A putrefação. Ali começa a morte do antigo ser, para renascer em uma outra vida.
Ter um tempo para refletir, nos dias atuais, é algo quase que impensável. Refletir é uma tarefa perigosa, pois o pensador, pode ter consciência do que acontece ao seu redor, e com ele mesmo. Somos bombardeados com enxurradas de informações que nos mantém dormentes para as questões existenciais. Respostas prontas para todas as ocasiões aparecem a nosso dispor, sem esforço algum. Tecnologia? Modernidade? Comodidade?
Na Câmara de Reflexões nada disso é válido. O neófito não tem a sua disposição as ferramentas de tecnologia, as quais se utiliza corriqueiramente no seu dia-a-dia. Uma caneta, provavelmente com a tinta quase seca, devido à falta de uso, é a ferramenta mais moderna que corre ao seu auxilio. Uma folha de papel com ordens explícitas, direciona e limita para onde o candidato deve seguir seu raciocínio. Nas paredes, encontra frases hostis, refletindo como um espelho, muitas das vontades que o trouxeram ali.
A Câmara de Reflexões é um momento íntimo. Ninguém pode saber de fato o que acontece dentro de cada um. Nossas vontades se mostram vorazes, para que nossa própria consciência nos julgue. Lamentos e vontades se misturam, junto ao medo de enfrentar aquilo que somos, mas nunca temos tempo para nos ver. Para ouvir, quem verdadeiramente somos, ou como verdadeiramente estamos.
Como falado anteriormente, a Câmara de Reflexões, da início a transformação do homem para a realização da grande obra. Um fruto doente, cheio de vícios, simbolicamente começa a morrer, para um fruto mais belo e vigoroso renascer, que servirá de utilidade para a obra social. Onde ajudara milhares de outras vidas. No novo testamento, encontra-se uma parábola onde Jesus menciona a transformação do grão de trigo: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto.”
João 12-24
É possível encontrar referencias semelhantes em cultos do mundo antigo, como nos mistérios de Elêusis, na Grécia antiga. Onde o iniciado deveria morrer, como o grão de trigo, para que muitos outros frutos nascessem.
Nada pode ser escondido na Câmara de Reflexões. Mesmo sem sinal de vida, ela parece ver tudo que escondemos, com todo o cuidado, dentro de nós e é jogado em nossa cara sem reservas. Também é normal o medo de ter sido descoberto. De ter seus objetivos revelados aos olhos de todos. Mas não é verdade. Seus metais, dinheiro, relógio, títulos, diplomas, influência, profissão. Nada vai ajudar o candidato naquele momento. Despojado de todos os bens materiais, ele se confronta com o espelho de sua consciência. É comum sabermos quem somos, quando temos dinheiro, acesso, influencia. Mas e quando somos privados de tudo isso? Quando o que temos é apenas uma folha de papel e caneta?
A prova da Câmara de Reflexões, coroa com êxito o processo da iniciação do candidato. Ela mostra quão frágil é a vida e também a importância da morte, sozinho, onde suas influências, dinheiro ou profissão, de nada valerão. Relembra, seu eu na forma mais crua e em silêncio, escreve na folha de papel, os deveres que deve ter, a pessoa que pensa ser, que promete ser. Você que já foi iniciado e passou pela Câmara de Reflexões, concorda com o que leu aqui? Deixe sua opinião e contribua com a gente!! Sua opinião é muito relevante para nós, que tentamos sempre, trazer luz aos conhecimentos e simbolismos maçônicos!!
Grande Abraço e até o próximo post!
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