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A Maldição dos Templários

A Maldição dos Templários

Aquela tarde mostrava-se receosa. As nuvens ensaiavam suas danças no horizonte, uma tempestade estava se aproximando quando, Bertrand de Gouth, nomeado Clemente V, recebeu um mensageiro na privacidade de seus aposentos. Trazia um bilhete com ordens para que fosse entregue pessoalmente ao Papa. Era uma mensagem de Felipe IV da França, dito o belo, contendo o último dos três favores que o Papa devia ao monarca. Na mensagem estava escrito: extinguir a Ordem do Templo.  

O conclave de Perugia estava lhe saindo demasiado caro. Preço alto a pagar pela sede de poder que sempre lhe consumiu. Clemente V deveria conceder ao rei da França este terceiro e último favor para se ver livre de suas garras.

As desavenças de Felipe com a Ordem do Templo começaram quando o pedido feito por ele, para integrar as fileiras da Ordem fora negado. Sua estratégia de bajular Jacques DeMolay, não funcionou mesmo usando de suas mais hábeis articulações para se aproximar   de Molay, ao ponto de convidá-lo para ser padrinho de sua filha, Isabel. Foram muitas as tentativas de Felipe em assumir o controle da Ordem, sem sucesso e com o ego ferido, passa então, junto com seu guarda-selos, Guilherme de Nogaret a arquitetar um plano macabro

Com a perda do controle de Jerusalém, os Templários passaram a se dedicar mais ao comercio do que as batalhas, se tornando os verdadeiros financiadores do império da França, e Felipe, que havia sustentado seu reinado até o momento, graças as taxas impostas aos banqueiros lombardos, e verdadeiras apropriações contra os Judeus, devia muito dinheiro. Então o rei endividado, e ultrajado pela negação de participar da Ordem, decide, com um só golpe, se vingar de seus agora inimigos, extinguir suas dívidas e ainda, assumir os bens da Ordem, que eram muitos. Mas para isso, precisariam ser condenados como hereges. Teve como primeiro passo, fazer de um homem ambicioso, um Papa. E como os Templários eram homens do Papa e não da igreja, segundo seu estatuto, tudo aconteceria conforme o planejado.

Com a ordem de prisão redigida em 14 de setembro de 1307 para todos os templários no território francês, o plano de fechar o cerco contra a Ordem começou a ser executado. Em 13 de outubro do mesmo ano, uma sexta-feira, com uma força tarefa bem coordenada, as ordens foram executadas de forma simultânea, quando todos os Templários que estavam nas dependências do reino francês foram detidos. O número é impreciso, mas sabe-se que Guilherme de Nogaret teve muito trabalho naquela noite. Ele mesmo foi até a fortaleza templária para prender o Grão-Mestre da ordem, Jacques DeMolay e outros 140 cavaleiros que se encontravam no local. A partir deste momento, começaria o que seria o maior julgamento que a Igreja já realizou. Contendo mais de 10.000 páginas, o acervo narra as confissões obtidas com torturas dos mais variados níveis de crueldade, que acabaram por matar muitos dos cavaleiros, aleijar ou até mesmo, acabar com a sanidade dos demais. Dificilmente algum interrogado saiu sem marcas, quer seja em seus corpos, quer seja na alma, daquelas sessões de torturas, assinando qualquer coisa que lhes mandassem. Confissões que diziam coisas como cuspir na cruz, praticar sodomia e adorar uma cabeça demoníaca.

As sessões de interrogatório acompanhadas de torturas foram seguiam, e muitos cavaleiros que não morreram nas câmaras de torturas, foram queimados pelas ruas de Paris, mas o tesouro templário não aparecia, o que deixava Felipe o Belo, extremamente irritado. As confissões nunca revelavam o paradeiro de todo ouro que Felipe sabia existir no Templo de Paris, mas que, como um passe de mágica, havia desaparecido.

Usaram a própria fortaleza templária como prisão para os membros da Ordem. Em 18 de março de 1314, Jacques DeMolay e Godofredo de Charnay saíram para descobrir o destino que lhes seriam revelados em frente a Catedral de Notre-dame. O cortejo que saiu do Templo de Paris exibindo os hereges, velhos descarnados que se chocavam uns aos outros com o sacolejar da carroça pelas vacilantes ruas de Paris, escoltados por arqueiros do reino, ainda exibiam o resto de seu orgulho, os trapos do uniforme com a cruz no peito que outrora fora símbolo de prestígio e poder. Era certo que Jacques nutria ainda uma esperança de que seus companheiros fariam uma emboscada para libertá-los. Sabia que muitos templários haviam deixado suas fardas e se mesclado entre a gente do povo, encontrando abrigo nas confrarias de artesãos, trabalhando, em construções, artesanatos ou até mesmo, no campo. Existiam ainda os que conseguiram fugir para reinos vizinhos, onde a sanha de poder de Felipe não os atingia. Mas o cortejo já alcançava Notre-dame sem interrupções, exceto por alguém, exaltado pelo incentivo de algum dinheiro, tentava tirar a gente de Paris daquele mutismo constrangedor.

 “Morte aos hereges”

Jacques DeMolay havia resistido as torturas de Nogaret por 7 longos anos, sem jamais revelar os segredos da Ordem. Livros como: O Segundo Messias, que você pode adquirir no link ao final deste post, relata algumas das torturas aos quais DeMolay foi exposto, como por exemplo: ser literalmente pregado como cristo na porta do Templo. Mas é certo que assinou apenas uma das confissões, na ocasião, teve seus polegares esfacelados. E se recriminava por isso, que segundo ele, ter sido fraco. Mas perante o circo montado diante de Notre-Dame fez questão de desmentir tudo, afirmando que assinou as confissões, apenas para que as torturas parassem. Foram essas objeções que acabaram o levando para a fogueira, quando a decisão inicial de prisão perpetua foi mudada para pena de morte. Descobriria seu destino. Seria queimado naIlha dos Judeus, um pequeno pedaço que levava esse nome por ser o lugar do suplicio de muitos Judeus. Repetia para si mesmo os nomes dos 3 homens que definiram injustamente seu destino, Papa Clemente V, Guilherme de Nogaret, guarda-selos do rei e Rei Felipe dito o Belo.

Com o espetáculo armado, o grande movimento de barqueiros para a Île de la sité, demostrava a agitação do povo. Cercada por cem arqueiros, a fogueira ficava no centro da pequena ilha, e os condenados seriam amarrados de modo que, ficassem de frente para a sacada real, onde se encontrava Felipe o belo e seu conselho.

Pessoas se acotovelavam, disputando um lugar. As crianças passavam por entre as pernas dos adultos, enquanto os condenados eram trazidos. A eles foram dados um chapéu estranho, uma mitra de papel, indicativo de que seriam supliciados pela inquisição como hereges.

Ao comando do carrasco, seus ajudantes circularam a pilha de lenha com suas tochas acesas e muito rápido, as chamas deram sinais de que acordaram. A multidão excitada não parava de bramir, enquanto o rei observava os condenados com seu olhar frio.

Godofredo de Charnay foi o primeiro a ser tocado pelas chamas. Em movimentos involuntários, tentava, mesmo amarrado, se afastar das línguas de fogo o quanto podia, mas em poucos momentos, sufocado pela fumaça cinza, seu corpo foi dobrado ao meio e finalmente as chamas o tomaram. As pessoas que não se afastaram para vomitar ou que desmaiaram, ficaram mudas.

O Grão mestre ainda não havia sido tocado pelo fogo. O vento que soprava na ilha, impedia que os braços das chamas avançassem sobre ele. As pessoas passaram acreditar ser a vontade divina. Apenas quando o braseiro que consumiu Godofredo desabou, as chamas foram avivadas e aí o fogo se dirigiu-se a ele.

Então o silencio foi quebrado pela voz do Grão-Mestre do Templo que sentia no corpo o calor do fogo

“Vergonha! Vergonha! Vós estais vendo morrer inocentes!”

E continuou quando o fogo começava a tocar sua face:

“Papa Clemente… Cavaleiro Guilherme de Nogaret… Rei Felipe: antes de um ano eu vos intimo a comparecer diante do tribunal de Deus, para ali receberdes o justo castigo.  Malditos! Malditos! Todos malditos, até a decima terceira geração de vossas raças!” Então as chamas o calaram, até que por fim, desabou sobre as chamas, mas sua mão permanecia erguida.

A multidão, aterrorizada com a maldição, passava a argumentar se aquelas palavras eram para elas enquanto a luz da fornalha se tornava mais fraca, trazendo a escuridão para mais perto delas.

Na sacada real, Felipe argumentava com alguém de seu conselho:

— Cometi um erro — disse ele. — Não estou contente. Cometi um erro.

— Deveria ter lhes cortado a língua antes de queimá-los.

Estava tudo terminado. A Ordem do Templo se apagava juntamente com as chamas da fogueira que consumiu seu último Grão-mestre. Mas de fato, aquela maldição lançada, tinha um ar de profecia e foi sentida nos corações daqueles que reconheciam seu endereço, e antes que se passassem doze meses, os três estariam mortos. Ainda hoje se alimenta a crença de que a Ordem do Templo possuía poderes sobrenaturais, que eram mestres do esoterismo, ou ainda, que cultuavam demônios. Crenças que ajudaram inclusive, Leo Taxil em seus fanáticos e ilusórios artigos contra a Maçonaria, usando parte de rituais imputados aos Templários, muitos séculos antes. Mas na verdade, assim aconteceu:

O Papa Clemente V, que sofria de constantes desconfortos abdominais, recebeu um tratamento inovador, aconselhado por um médico estranho, a ingestão de pó de pérolas…

Michel de Nogaret, que redigia suas sentenças e anotações sob a luz de velas, recebeu a encomenda de pacotes de novas velas da casa onde costumava comprar, mas produzida por um novo artesão. Suas velas estavam envenenadas…

O Rei Felipe, que costumava sair para longas caçadas, auxiliado por algum novo escudeiro, sofreu uma queda repentina e inexplicável, cujo resultado, levou o rei a óbito em poucos dias.  

Entre tanto, a vingança dos Templários não parou por aí. Em 27 de setembro de 1540, nascia uma nova Ordem, com a promessa de tomar da igreja e dos reinos envolvidos, todo poder, riqueza e glamour que foram roubados da Ordem do Templo. Mas isso é história para um novo artigo!

Até lá!

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