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A Maçonaria e os séculos de escuridão

Maçonaria, um nome simples, derivado do francês – Masonerie – que remete as corporações de pedreiros da idade média, a qual nos dias de hoje é capaz de causar arrepios em muita gente. Não são raras as vezes que se ouvem comentários atribuídos à Ordem Maçônica, inclusive, com as mais horrendas e criativas lendas. Por falta de conhecimento são associadas a Maçonaria a práticas do culto ao demônio e sacrifícios de animais. Seus membros são acusados de vender a alma ao diabo e dependendo da variação da lenda, até a alma de seus filhos. Todavia a criatividade não para por aí, em alguns casos, os membros da Ordem são acusados de querer dominar o mundo, e até mesmo, possuírem poderes especiais e ocultos. Muitas vezes, os associados, são proibidos de frequentar cultos religiosos e proibidos de professar sua fé.

O fato de suas reuniões serem realizadas a portas fechadas, despertam a imaginação popular, abrindo brecha para todo tipo de fantasias e mitos. Algumas vertentes da fé cristã levantam suas vozes contra a Maçonaria, fazendo infundadas menções, inclusive, de que suas práticas vão contra os preceitos cristãos, rechaçando membros de suas instituições que possam ter alguma ligação com a Ordem Maçônica.

Com isto, ser maçom em alguns países, na maioria de terceiro mundo, é sinônimo de degradação moral e religiosa.

Mas o que faz a Maçonaria ser tão odiada pelas religiões e porque não dizer, pela sociedade em geral em muitos países? Você já ousou se questionar?

Esse artigo tem por objetivo trazer a luz, alguns fatos que a história, seletiva como é, fez questão de deixar no escuro. Assim, faremos uma breve viagem através dos séculos passados, relembrando documentos que por sua importância, não deveriam permanecer no esquecimento. Fatos e acontecimentos que terão o propósito de tornar você, leitor, o juiz, o algoz ou advogado de defesa. Mergulhe com a gente nessa retrospectiva que, com certeza, fará você viajar por décadas de história!

Leo Taxil

Inicialmente, podemos começar a encontrar algumas respostas em Leo Taxil, pseudônimo de Marie Joseph Gabriel Antoine Jogand Pagès, que foi um dos maiores responsáveis pelo dano à integridade da Maçonaria. Taxil, foi um influente jornalista do século XIX. Chamado de mentiroso compulsivo ou mesmo de brincalhão, Taxil criou o jornal “La Marotte” dedicado exclusivamente a atacar a igreja e seus clérigos.

Em 1881, Leo Taxil foi iniciado na Maçonaria onde permaneceu aproximadamente por dez meses como aprendiz, antes de ser expulso da Ordem por estar envolvido em alguns escândalos, como plágio e difamação. Em 1885, quando se revoltou contra a ordem maçônica, resolveu reconciliar-se com a Igreja Católica, após ter declarado conversão pura e verdadeira ao catolicismo. Com isto Taxil decidiu destilar seu rancor contra a Maçonaria, manchando dezenas de páginas com as mais fantásticas mentiras e em bem pouco tempo, passou de inimigo da igreja, ao seu mais célebre aliado. Criou uma personagem desconhecida chamada, Diana Vaughan, uma então associada da Maçonaria, a qual dizia se corresponder.

Sua fama foi tamanha, ao ponto de, em 1887, conseguir uma audiência com o próprio Papa Leão XIII que acreditou totalmente em suas fantasias. Essa audiência dava respaldo para a Bula Humanum Genus, denunciando as ideias filosóficas da Maçonaria, lançada anos antes pelo Papa.  Leo Taxil agora era assistido, apoiado, protegido e financiado pela igreja.

Escrevendo diversos panfletos e revistas sobre a Maçonaria, Taxil inventou cultos e adorações, coisas como: os adeptos veneravam uma cabeça de bode chamada Baphomet. Em 1891 aproveitando a morte de Albert Pike (um dos mais importantes escritores maçônicos, responsável por escrever o livro Moral e Dogma), o promoveu em seus folhetos como o Papa Luciferiano escrevendo absurdos como: “Pike se reúne com Lúcifer as Sextas-feiras, as 3h da tarde”.

Por quase uma década, Taxil se dedicou a iludir e criar fantasias que lhe trouxe muito dinheiro. Mas não reservou sua criatividade mentirosa apenas à Maçonaria, mentiu para todos utilizando outros pseudônimos enganando seus leitores sobre os mais variados assuntos.

No dia 19 de abril de 1897, Leo Taxil resolveu pôr fim a décadas de “brincadeiras” com seus leitores. Alugando um auditório em Paris, convidou líderes da Igreja e os maiores intelectuais da época para presenciar a sua coletiva de imprensa. Em mais de 30 páginas, Taxil mostrou aos presentes que tudo que havia escrito era mentira, não só sobre a Maçonaria, mas sobre a Igreja e muitos outros temas. Desde o avistamento de um monstro marinho que mobilizou a Marinha da época, à fantástica ordem maçônica satanista. Ridicularizando a Igreja e fazendo o Papa ser desmoralizado no que foi o maior escândalo da época.

Apesar de se passar mais de cem anos, as mentiras confessas de Taxil, ainda são utilizadas para denegrir a imagem da Maçonaria, por diversas vertentes do cristianismo, inclusive a Igreja Católica que continua usando sua obra como arma de difamação.  

A Maçonaria Dissecada

 Samuel Prichard, autor do livro Maçonaria Dissecada publicado em 1730, revela todo seu descontentamento com a Maçonaria, após supostamente deixar de fazer parte da ordem. Com um linguajar desajeitado, narra um prefácio confuso e cheio de mágoas, com a intenção de revelar todos os segredos da ordem.

No folheto, Prichard promete revelar todos os segredos, contando nos mínimos detalhes, os costumes e segredos da Ordem. Apesar da falta de registros, o autor apresenta-se como um “membro recente de uma loja constituída”

 Nada se sabe sobre sua vida, apenas que, pela forma como foi escrito seu trabalho, se supõe que recebeu pouca educação. Os poucos registros de que mencionam a existência de Prichard além de seu livro, um registro numa ata de 25 de setembro de 1728 onde o secretário escreve “Sam Pritchard da Loja Cabeça do Rei Henrique VIII”. E uma circular da Grande Loja datada de 15 de novembro de 1730, onde menciona Pritchard como um impostor, as únicas comprovações de sua existência. Porém em ambos os registros, a grafia do sobrenome está diferente da qual o autor assina seu livro, podendo se tratar coincidentemente de outra pessoa, ou mais provavelmente, o erro de grafia do secretário da Loja.

Vamos falar mais sobre essa obra e seu autor num post todo dedicado a esse capítulo da história maçônica, onde deveremos tratar o assunto com máximo de detalhes. Lembrando que ao final desse artigo, você encontra o link para adquirir esse e outros livros que ajudaram na construção deste artigo!!

A Igreja Católica

Maçonaria e a Igreja Católica possuem uma longa história de divergências. Foram várias as bulas e sansões que caracterizavam a rivalidade entre as duas instituições. Logo nos primeiros anos da Maçonaria, após sua reforma, com o nascimento da Grande Loja de Londres, as reuniões a portas fechadas ou os temas que tratavam assuntos “secretos” não foram muito bem aceitas, podendo ser caracterizada como ameaça. Deram-se início as sanções, começando pelas proibições em 1737, pelo cardeal André Hercule de Fleury, o primeiro-ministro de Luiz XV da França, proibindo toda e qualquer reunião secreta, independente do pretexto.

Já em 1738 os católicos foram oficialmente impedidos de se associarem a Maçonaria pela bula do Papa Clemente XII, In eminenti apostolatus specula. Conforme trecho extraído do texto que segue:

“… Demos conta, e o rumor público não nos permitiu duvidar, que foram formadas, e que se afirmavam dia após dia, centros, reuniões, agrupamentos, agregações ou conventículos, que sob o nome de “Liberi Muratori” ou “Franco-mações”. E seguindo ainda: “…Por conseguinte, desde há muito tempo, estas sociedades têm sido sabiamente proscritas por numerosos príncipes em seus Estados, já que consideraram a esta classe de gente como inimigos da segurança pública”.

Assim se sentindo ameaçada pela Maçonaria, por conta da falta de controle sobre os assuntos que corriam dentro das Lojas, a Igreja de Roma ainda promoveria outras vinte bulas através dos séculos condenando a Ordem. Sendo algumas delas foram: Providas Romanorum, de Bento XIV em 1751, declarando a Maçonaria, uma ameaça a Igreja e ao Estado. Ecclesiam a Jesu Christu, de 1821 do Papa Pio VII condenando as sociedades secretas Maçonaria e a Carbonária. Uma encíclica do Papa Pio IX chamada Etsi Multa, de 1873, que abordava as perseguições que a igreja vinha sofrendo, acusando as organizações secretas pelo ato.

Dentre os opositores da Maçonaria, Leão XIII foi com certeza, o mais ferrenho, promovendo 8 sanções contra a Ordem no período de 1882 até 1902.

Em 1983 o então Cardeal Josph Ratzinger, que depois viria a se tornar o Papa Bento XVI, promoveu a mais recente das sanções na Declaração sobre a Maçonaria. O texto declara imutável as restrições da Igreja quanto a Maçonaria por declarar inconciliável a filosofia maçônica com o pensamento da Igreja.

Ainda em 2023, o Papa Francisco reafirmou a proibição para os católicos, de se associarem a Maçonaria, pela incompatibilidade da filosofia maçônica, com a doutrina da Igreja. Porém, são muitos os murmúrios que ecoam nos séculos de existência da instituição maçônica quando vários membros da igreja, engrossam suas fileiras. Inclusive no Brasil, alguns personagens que marcaram seus nomes na história pertenciam a ambas as organizações. Padre Diogo Feijó, que foi regente do Brasil, durante a menoridade de Dom Pedro II, ou Frei Caneca, escritor e político, também herói da revolução pernambucana e mártir da confederação do Equador.

Existem ainda outras instituições religiosas, mais modernas que professam seu ódio e intolerância contra a Ordem Maçônica, mantendo as lendas de Taxil vivas e fortes, ao ponto de ainda em pleno século XXI, os membros precisarem manter sua associação à Ordem em segredo e absoluto sigilo, inclusive de seus familiares.

Apesar de ser muitos os inimigos autodeclarados da instituição, a Maçonaria só conhece como verdadeiros adversários os vícios do fanatismo, a intolerância e a ignorância, que transforma o homem na sua versão mais pobre que, quando vencido, rasteja a longas braçadas para o abismo mais escuro, onde a luz jamais alcança.  Mas cabe ainda uma pergunta…

O que vem a ser a Maçonaria nos dias de hoje?

Respeitando a reflexão que este tema provoca, trataremos deste assunto em um próximo artigo!

Grande abraço e até lá!

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