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A Iniciação Maçônica

Um dos aspectos que mais caracterizam a Maçonaria na sociedade onde ela está inserida, é o fato de seus membros serem obrigados a passar por uma cerimônia de iniciação para serem aceitos. Diversas lendas giram entorno da Maçonaria, e grande parte delas, referem-se à iniciação, pois seria o ponto alto da vivência maçônica, ou seja, a recepção na ordem. 

 As lendas variam sobre o que aconteceria neste estranho ritual. Popularmente ouve-se com frequência de que, o membro ao ser iniciado, faz um pacto com Satã, outras variantes dizem que o pacto é feito com sangue de um bode. Juramentos prestados fazem os candidatos venderem sua alma ou a dos seus filhos em troca de prosperidade. Fatos que tornam a cerimônia de iniciação um ato bizarro e assustador.  Mas será que é mesmo isso que acontece com o candidato por entre as portas fechadas do templo?  

Convido a você leitor aventureiro, a desvendar os mistérios por entre as brumas nebulosas das lendas e dos fatos que fazem deste ritual, tão singular e único, para o peregrino que inicia sua jornada na senda da Maçonaria.  

Na noite de 30 de setembro de 1791, estreava num teatro localizado no distrito de Wieden, em Viena, uma ópera chamada: “A Flauta Mágica” de Mozart, que continha elementos que mostrava de forma velada, uma iniciação maçônica, dotada dos ideais iluministas que irrompiam os muros da sociedade por aqueles dias. Mozart era iniciado, assim como grandes outras personalidades da época, procurava propagar os ideais da ordem, entre eles, o progresso e a liberdade de pensamento em sua arte.  

A Palavra Iniciação vem do Latim: “Initiatio” e que significa ato ou efeito de iniciar. O candidato entende isso quando chega ao templo e a porta se abre após a terceira batida. A partir desse momento, ele se vê mergulhado na atmosfera mística que a ordem ao qual pediu ingresso lhe oferece. De provas a juramentos, lhe é exigido coragem, auto reflexão e perseverança, dos quais vai fazendo uso, pouco a pouco até que receba a luz ao final da cerimônia. Cada etapa tem a finalidade de imprimir no neófito os conceitos guardados pela ordem e que leva simbolicamente o iniciado das trevas para a luz, num processo interno que promove um verdadeiro momento de renascimento. Marca o momento da transição de uma vida recheada de imperfeições para o nascimento de uma vida em busca das virtudes. O caminho da iniciação, é sempre marcante, pois é necessário criar mecanismos que despertem o candidato para um novo proposito, deixando os antigos hábitos que marcam a antiga vida, num passado que será enterrado nas masmorras mais obscuras e profundas, para que se inicie uma busca, uma jornada de conhecimentos que transformarão o neófito, enquanto traça a jornada, aparando suas arestas, suba os degraus, de forma lenta e muitas vezes dolorosas, rumo ao caminho reto da virtude.  

É preciso entender que tudo que acontece na iniciação, passa a ser gradativamente assimilado pelo iniciado. Leva tempo até que o neófito possa entender tudo que se passou naquele momento. A iniciação transforma e marca o ponto de partida, no início da caminhada ao qual ele se propôs a percorrer na senda, num trabalho contínuo. É a morte do eu de antes, para a vida do eu agora. Na verdade, uma verdadeira oportunidade de o homem começar de novo, uma nova vida amparada por dogmas e moral, que possivelmente antes desconhecia. Uma oportunidade de formar seu coração de modo que se compadeça com as agruras de seus semelhantes de uma forma que não havia antes percebido. 

Não podemos esquecer de que a cerimônia de iniciação não acaba quando o iniciado vê a luz. Ela começa, e é no galgar da senda que obtém os elementos chave que promovem a verdadeira transformação espiritual. A iniciação marca a chegada e é também a partida. Termina uma fase da vida para dar início a outro período que deve seguir ao longo da caminhada terrena. 

Gostaríamos de lembrar, que a cerimônia de iniciação não é reservada somente a Maçonaria. Tamanha é sua importância que nas escolas iniciáticas da antiguidade, indo do antigo Egito até as escolas de mistério da antiga Grécia acontecia a transição do neófito, que simbolicamente, deixava seu antigo ser morrer, para que um novo ser renasça. 

As ordens de cavalaria da idade média, como os Templários por exemplo. Tinham cerimonias secretas de iniciação que, de alguma forma, transformava e ligava o recém chegado a ordem. Uma curiosidade, é que foi justamente essas cerimonias secretas que levaram os Templários para a fogueira entre 1307 e 1314, e determinaram o seu fim. Nos interrogatórios, assinaram as confissões perante os inquisidores de que durante a iniciação, o neófito precisava renegar sua fé em Cristo cuspindo na cruz, e adorar uma cabeça. Alguns historiadores e até mesmo membros da Maçonaria, afirmam que ambas ordens são ligadas e os costumes da iniciação utilizados pela Maçonaria vieram herdados dos Templários. Alguns ainda dizem que vieram da Ordem Rosa-cruz. Encontramos até nos sermões atribuídos a Jesus Cristo, no novo testamento, menções a iniciação e sua importância para o reino dos céus: 

“Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, não morrer, fica ele só; se morrer, produz muito fruto” 
Jo 12 Vers. 24 

Mas o que podemos fazer de momento, a pesar de muitas ordens iniciáticas que se mantem secretas, daremos eco as frases de Rene Guenon, em sua obra: A perçus sur l’Initiation, de 1946, na págin 103, quando afirma: 

“Não existem mais no mundo ocidental organizações iniciáticas capazes de reivindicar para si uma filiação tradicional autêntica senão as Associações de Obreiros e a Maçonaria”. 

Grande abraço e nos veremos no próximo Artigo! 

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